domingo, 2 de junho de 2019

QP: Alma Violenta - Amadurecimento e as Escolhas da Vida Adulto

Hey, como vocês tem ido?

Espero que bem. 

Dei uma sumida do blog, algo razoavelmente frequente, mas estou tentando mudar esse hábito, me organizando melhor. Tenho pesquisado muito coisa para o blog, então aguardem uma enxurrada de novos posts!

Hoje vim falar sobre um mangá que recentemente reli, e está ligado ao universo de Crows (já fiz um post sobre, clique em cima do nome do mangá para conferi-lo, recomendo dar uma lida no post de Crows antes desse!).

Se você conhece Crows, ou ao menos leu o meu post sobre, imagino que já tenho uma noção de como as coisas funcionam em mangás de delinquentes. QP, sendo do mesmo autor de Crows, nos faz esperar uma experiência da mesma maneira. Digo que quem tiver essa visão está errado, porque são obras que apesar de pertencerem ao mesmo nicho, abordam coisas bem diferentes. Resumidamente, Crows é uma obra que atinge melhor jovens que estão no fim da juventude, caminhando para a vida adulta. Os personagens em sua maioria estão em desenvolvimento. Em QP, os principais já são adultos e desenvolvidos, diria eu totalmente maduros. E a história não é contada de maneira totalmente linear, pois eventos do presente acontecem ao  mesmo tempo que eventos do passado estão sendo narrados.

QP e seus 'kyoudai' dos tempos de escola!


A história de QP gira em torno do próprio protagonista Kotori Ishida, apelidado de "QP". Kotori é um personagem bem icônico, pois diferente de protagonistas que estamos acostumados, que sempre buscam cada vez mais serem fortes, o cara simplesmente é imbatível! Desde criança, nunca conheceu o gosto da derrota. Ele é uma lenda viva, podemos dizer. Porém...a história na verdade não começa nos feitos dele, e sim em um posto de gasolina, com QP já formado no colegial, agora um adulto.

No seu primeiro dia de trabalho, seus colegas estavam apreensivos, ao saberem de quem se tratava, mas foram surpreendidos pelas ações de um homem gentil, de bom coração, totalmente sem coesão com o que ouviam falar. Acontece que Kotori passou três anos no reformatório, após ter de carregar nos ombros um grande esquema envolvendo uma guerra entre uma grande facção que estava sendo organizado por várias primeiranistas, que pretendiam colocar em submissão quaisquer uns que se oporem a eles. E quem organizou tudo isso, foi um grande amigo de QP, Azuma Ryou.

Agora, um homem reformado e renascido após três anos recluso, QP quer suas perguntas respondidas, e mais importante: achar Ryou, que desaparecera após seu último encontro, mergulhando em um mundo obscuro.


Para ser  mais claro, no tempo presente, cerca de 80% dos eventos importantes já ocorreram, mas para o leitor entender a história, QP a narra por meio de flashbacks, para seus colegas do posto, tentando entender alguns mistérios que o rondam. O interessante desse artifício, é que Takahashi-sensei conseguiu estabelecer uma ligação com o leitor, onde este se sente como um dos ouvintes da histórias do Kotori!

Bem, prosseguindo, vamos aos poucos vendo desde eventos da infância do QP, como a maneira que conheceu seus primeiros amigos, alguns embates importantes, e aí enxergamos aos poucos um personagem sendo solidificado! Não só um, como alguns outros que são importantes na história, na verdade, QP: Soul of Violence é um mangá com poucos personagens, em contraste com  outros do mesmo autor. Ainda assim, são trabalhados individualmente, com o maior cuidado, ficando quase vivos.

Com o tempo, vamos entendendo o porquê de QP ter começado a deixar de  lado uma vida briguenta sem razões ou motivos para lutar, e começar a buscar o significado de ser um verdadeiro homem, inspirado por um amigo em especial. Sendo prático, o que exatamente levou QP a ser o QP que conhecemos no início do mangá?

O que você faz tem sentido? Suas ações estão sendo tomadas com algum propósito lógico?
Obviamente, o mangá é recheado de momentos engraçados!
Agora, passarei a discutir alguns pontos que são bem importantes, porém são melhor compreendidos por aqueles que leram o mangá, portanto, contendo spoilers. Se não lhe for um problema, pode prosseguir! Do contrário, desça ao fim do post, onde está escrito "FIM DOS SPOILERS".



A grande questão em QP, ao meu ver, não é julgar o caminho que você está tomando. Os personagens já tomaram seus caminhos, você (leitor) apenas tenta entender o motivo de cada escolha. Nenhuma é necessariamente errada, contanto que assuma o que aquilo lhe significará.

Com o desenvolver  dos flashbacks, é mostrado como QP conhece Ueda Hidetora, inicialmente um rival e mais tarde um grande amigo.


Hidetora começou em um embate marcante com QP, e mais tarde, como algo além.








Esse embate é uma das minhas cenas favoritas nos mangás em geral. Pela primeira vez, QP perdeu. Ele conseguiu se 'sobressair', pois como disse, seu preparo físico quem lhe concedeu a vitória. Em termos de determinação, Hidetora-san, o desafiante, venceu. Foi nesse momento, que o grande QP se sentiu derrotado e começou a refletir. Aos poucos, vendo que vida vazia vinha seguindo, decidiu optar por olhar as coisas de uma nova forma. Amadurecer. E como inspiração, tomou o homem que o 'derrotou'.

Amizade é um conceito importante aqui.

O novo Kotori decidiu começar a viver mais tranquilamente, e lutar apenas com sentido, passando até mesmo a evitar embates sem  sentido, por mais que a vontade de derrubar qualquer um que o irritasse fosse imensa.

Por outro lado, esse não era o pensamento de seu amigo, Ryou.

E então, um ponto fundamental do mangá vai se desenvolvendo. Um confronto de ideais, Kotori Ishida, buscando ser um  cara mais 'correto', e Ryou Azuma, não se importando com os meios necessários para triunfar.

E não a maneira melhor de explicar isso do que com um pensamento do próprio Hidetora-san: "Existem dois tipo de homens fortes, aqueles que se tornam fortes fazendo muitos amigos, e os que se tornam fortes usando outros como degraus, e criando então, inimigos". Que tipo de homem ser?

Claramente o primeiro é o desejo de QP, e o segundo, foi o caminho tomado por Ryou. O mangá não tenta passar uma ideia de qual seria correto, em momento algum. São escolhas individuais, e isso que acho sensacional em QP.

Quando os dois se veem, pela última vez antes do QP ser 'preso', vemos que não existe conciliação entre esses dois pontos.


A vida é imprevisível, não sabemos o que pode nos ocorrer.


Com essa parte da história sendo contada, retomado é o tempo presente e a busca final pela última resposta ocorre.

Quando os dois estão finalmente cara a cara, é que vemos a dura realidade.








A mente de um homem adulto não pode ser mudada, ele já está com pensamentos enraizados em sua mente, em seu corpo. São como cicatrizes que não podem ser removidas.

Ryou, obviamente não cede, porém deixa claro que não quer envolver seus antigos companheiros em seu meio, e simplesmente desaparece. Não existe mary sue aqui. Ninguém salvou o dia, e ao fim, temos os dois grandes amigos ainda separados. No entanto, uma coisa ficou clara, o laço formado entre os dois continuou vivo. E por mais que possa soar meio piegas, não estarem mais 'juntos', foi o melhor a ser decidido.

Diferente de uma cena específica de Crows, onde um personagem se arrepende e decide mudar sua trajetória, aqui não será assim. As decisões já foram tomadas, como várias vezes deixei claro.

O que é bastante deprimente, mas a dura realidade. Infelizmente, não tem como certas coisas durarem para sempre, e acabam somente como memórias. Boas, bastante nostálgicas, mas dolorosas memórias.

No entanto, a vida se segue!

FIM DOS SPOILERS!

Ryou é muito parecido com Akira Nishikiyama da franquia de jogos Yakuza/Ryu Ga Gotoku, na minha opinião. Talvez eu aborde isso em um futuro post.

Na imagem: "Ryou, tenho certeza de que se conhecesse esses caras, iria olhá-los com desprezo, como se fossem fracos, porcaria inútil. Mas estaria totalmente errado. Eles passam por apertos, lutam suas próprias lutas para obter suas felicidades...e quando finalmente o conseguem, florescem como uma grande flor. Não acha que são bem mais fortes e legais que nós? Gostaria de ser mais como eles, contigo. Entende, Ryou..."


É muito interessante a interação de QP com seus colegas de trabalho. Para um cara que sempre fez amizades com base na força, nas lutas (físicas), essa novidade de amizades mais puxadas para conversas e o compartilhamento de emoções diferentes daquelas obtidas em lutas, é fantástico.



Em conclusão, QP: Soul of Violence é um mangá muito bem escrito, com personagens profundos, uma temática diferente, que ao mesmo tempo que tem a essência do "Crowsverse", tem sua  própria essência, bem mais madura. Creio que ainda terei de reler essa obra no futuro para compreendê-la ainda mais.

QP tem 8 volumes, com mais dois gaidens (um que aconselho ser lido imediatamente após a leitura do mangá principal; o outro não li pois não achei traduzido para o inglês, e não tenho japonês bom o suficiente para lê-lo). Além de haver uma série de 12 episódios, que contudo não achei legendada em nenhum idioma, então em algum momento tentarei adquiri-la para fazer uma pequena review.

Bem, encerrarei por aqui. Desculpem-me se a consistência do post não ficou tão boa, faz um tempo que não consigo escrever, e então os rascunhos que faço na minha mente ficam distorcidos. Espero que em breve traga mais um post, porque de ideias estou lotado!

Um grande abraço!