quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Pokémon Legends Arceus - A Redenção da Franquia

Olá! Primeiramente, que todos lendo isso tenham um próspero ano. Finalmente terminei um dos Pokémon mais recentes, e desde que o comecei já planejava escrever sobre. Bom, em frente!

Introdução

Pokémon Legends Arceus foi lançado em 28 de janeiro de 2022 mundialmente para o Nintendo Switch. Este é um jogo da saga 'core' (como são chamados os jogos da linhagem principal na franquia), porém traz novidades na jogabilidade tradicional da série. Bom, se você não é familiarizado com os segmentos de jogos da franquia, eu explico: Pokémon é originalmente um RPG de turnos, o objetivo do jogador é - através de seu personagem controlável - 'explorar' a região, capturar todos os pokémon e se tornar o Campeão da Liga Pokémon (o que geralmente ocorre ao se derrotar o campeão anterior). Legends chega para subverter isso, nos enviando ao passado do mundo Pokémon -  na antiga região de Hisui -, numa época em que a relação entre humanos e os monstrinhos de bolso era mais distante do que estamos acostumados. Entrarei em maiores detalhes quanto a isso e mais nos tópicos abaixo, por isso, peço gentilmente que continue a sua leitura!

Jogabilidade Inovadora

 Assim como nos jogos anteriores, em 'Legends Arceus' há de completar a Pokédex (PokéAgenda, uma enciclopédia que lista as espécies de monstrinhos com suas peculiaridades). Só que, diferente dos demais jogos, aqui esse é o objetivo principal, sendo algo necessário para se chegar ao final definitivo do jogo. Normalmente, a tarefa de capturar as criaturas seria bastante exaustiva, mas isso é colocado em cheque com a forma que passa a funcionar em LA. Aqui temos um mundo semi-aberto, onde os pokémon habitam livremente pelo mapa, cada um possuindo suas próprias personalidades e trejeitos de acordo com suas espécies.. Basicamente, dividem-se em três tipos: os medrosos, que fogem quando você se aproxima, os passivos, que não se acanham na sua presença e os agressivos, que tentarão te atacar ao notar a sua presença. Dentro desses, existem algumas variantes, além de que em certas condições podem mudar de um quadro para outro. Isso sem contar que podem se fazer presentes em bandos, sozinhos, tal como possuem comportamentos específicos (voar, correr, saltar, etc). Essas variáveis costumam seguir padrões de acordo com a espécie do Pokémon, mas nem sempre trata-se de uma regra. 

Diferente dos jogos anteriores - onde só era possível capturar novos bichos diretamente em batalha, Legends inova trazendo a opção de apanhá-los fora de combate, o que abrange algumas táticas específicas: pode simplesmente lançar a pokébola, jogar alguma isca (geralmente, alimentos) para atraí-lo e o pegar desprevinido, jogar bolas de terra em seu rosto para intimidá-lo e, assim, aproveitar essa breve janela de fraqueza...ou ir pelo método tradicional, colocando-o para lutar contra o seu próprio pokémon e reduzir a sua vida o mais baixo possível para capturá-lo - método mais prático para caçar os pokémon muito fortes, embora esteja longe de ser impossível. Sinceramente, 90% dos pokémon que obtive no jogo foram através do novo método de captura. É muito mais imersivo, pois torna uma tarefa que antes era vagarosa e maçante em algo dinâmico e divertido, sem contar a falta de necessidade de se abrir uma tela de batalha, ter que tomar todo o cuidado para não zerar a vida do pokémon. Não mencionei ainda, porém o mundo do jogo é dividido em 'subregiões', as quais não são diretamente conectadas, o que lhe dá a necessidade de retornar para a base - a Vila Jubilife - caso queira acessar uma 'subregião' diferente. Ainda que não seja um mundo aberto total, caramba, as áreas são enormes e bem variadas, possuindo suas subáreas próprias (que podem ser florestas, cavernas, montanhas, por aí vai...), rendendo horas de jogatina para visíta-las por completo. Há de se citar os Pokémon 'Alpha', variantes mais robustas (maiores e mais poderosas) dos Pokémon selvagem. São raros e mais difíceis de se capturar, oferecendo um desafio interessante que é recompensado pela diferença de poder deles.

Justamente para tornar a travessia nessas áreas mais tranquila, o sistema de montarias - introduzido de vez nos jogos 'Sun & Moon' retornou, e a sua aplicação foi sensacional. Resumidamente, temos :

- Wyrdeer, para se correr pelas planícies;

- Ursaluna, para se buscar por itens perdidos;

- Basculegion, para se navegar pelas águas;

- Sneasler, para as escalas;

- Braviary (de Hisui), para se desbravar os céus;

Os transportes são muito úteis e fazem bastante sentido dentro da premissa de exploração do jogo. Não posso deixar de citar a fluidez que é sair de um transporte ao outro. Se você está montado no Wyrdeer e entra na água, automaticamente trocará para o Basculegion. Se estiver caindo e pressionar o botão 'A', chamará pelo Braviary e, caso pouse com ele no solo, retornará para a última montaria terrestre que utilizou.

As cinco montarias presentes no jogo.
Por fim, falemos dos combates! As transições entre o mundo e as batalhas são muito boas, não havendo telas de carregamento. Quanto a forma que funcionam em si, em primeira análise, são bem semelhantes aos tradicionais, porém com a adição de variações dos movimentos de batalha, os estilos 'ágil' e 'forte'. O primeiro torna os efeitos do movimento (incluindo dano) menores, porém aumenta as chances de um turno extra, já o segundo estilo intensifica os efeitos do movimento escolhido, mas as custas de poder dar turnos extras aos adversários, é sempre importante pensar de forma parcimonios antes de agir, pois virar o jogo, especialmente contra adversários muito fortes ou grupos de pokémon. Apesar de serem mudanças simples, tornam os combates menos previsíveis e variados, para um jogo focado no aspecto single-player, funcionou perfeitamente. Bom, na verdade até existem combates específicos em que o combate é bem mais diferenciado, porém para falar dele, é preciso contextualizar algumas coisas antes, por isso, ao próximo tópico!


Pokémon são criaturas assustadoras

Essa é uma das expressões que mais recorrentemente vemos no jogo. Legends Arceus se passa séculos antes dos jogos Diamond & Pearl (que receberam versões remake para o Switch), numa época em que a região de Sinnoh era chamada de 'Hisui' e as pessoas temiam aos Pokémon. Para se protegerem dos Pokémon, construíram a Vila de Jubilife, cuja manutenção é feita pela 'Equipe de Expedição Galáctica', um grupo formado por pessoas de outras regiões que vieram estudar Hisui e seus Pokémon. As pokébolas são invenções recentes e não tão fáceis de se dominar. Poucas pessoas na Vila conseguem aliar-se aos Pokémon, sendo que a maioria daqueles que conseguem, não possuem mais do que um ou dois ao seu lado. Tudo muda quando o nosso personagem - o  mesmo de Diamond & Pearl, porém alguns anos mais velho - é enviado ao passado por ninguém menos que 'Arceus', o Pokémon que criou o Universo. Cabe a nós, então, auxiliar o povo de Hisui a compreender melhor as criaturas que os cercam e, ao invés de temê-las, formarem laços com elas. Antes de prosseguir, queria mencionar o quão bacana é o design tanto dos personagens, como dos locais de Hisui. Há uma clara inspiração no Japão Feudal - o que faz bastante sentido, já que a Hisui contemporânea, Sinnoh, é baseada na província japonesa de Hokkaido -, o que lembra bastante o jogo 'Pokémon Conquest' (que pretendo falar sobre em um futuro post). 

Uma das ruas da Vila de Jubilife, vista de forma panorâmica.
A forma como o vilarejo vai mudando durante o jogo é sensacional, novas estruturas vão surgindo, pessoas passam a ter seus próprios Pokémon como companhia e até a trilha sonora se altera. Os diálogos evidenciam ainda mais como os avanços da Galaxy Team (impulsionados por nós, claro) estão mudando a vida dos cidadãos para melhor: as pessoas estão mais alegres, vivem com menos temor dos pokémon, passam a querer saber mais sobre e tê-los como companheiros. Isso ocorre gradualmente, porém quando você compara o estado que era no início com o do fim do jogo, notará quão surpreendente foi. 


A galera mais investida na lore de Pokémon costuma concordar que a história dos jogos da quinta geração é a melhor. Bom, era, pois a do Legends Arceus é muito mais trabalhada. Como dito acima, nosso personagem é enviado ao passado para auxiliar o povo de Hisui a se aproximar dos Pokémon. Chegamos ao passado através de uma estranha fenda no espaço-tempo, ao topo do Monte Coronet, o pico mais alto de Hisui. Essa fenda tem causado eventos estranhos por toda a região, como a aparição de pokémon incomum, porém principalmente uma agitação, um frenesi nos 'Pokémon Nobre', uma subcategoria única de Pokémon. São indivíduos específicos de espécies que habitam Hisui, porém com capacidades diferenciadas, o que os faz serem reverenciados por dois grupos distintos, os rivais Clãs Diamond e Pearl. A principal motivação de sua rivalidade é o desacordo em quem é o Almighty Sinnoh, para o primeiro grupo, o Deus do Tempo e, para o segundo, o Deus do Espaço. Esses clãs, diferente dos habitantes da vila, vivem dispersos pelas áreas naturais de Hisui, possuindo uma conexão mais próxima com as criaturinhas selvagens, lembrando um pouco os personagens da série de spin-offs Pokémon Ranger, principalmente no fato de não manterem seus pokémon em pokébolas.

Adaman, líder dos Diamond e Irida, líder dos Pearl.

Acaba que decidimos por auxiliá-los a acalmar os Nobres, funcionando como uma espécie de 'fase' na progressão da história, pois cada um deles funciona como protetor de uma das áreas, assim sendo, servem como chefe para a próxima área ser liberada. Essas boss battles ocorrem de uma forma diferente das batalhas normais: para acalmar os pokémon nobre, devemos lançar 'bálsamos' cujos fragâncias os agradam. Só que isso é feito em tempo real, lembrando vagamente os jogos souls. É necessário aprender os padrões de ataques dos chefes para desviar e acertá-los, até que haja uma brecha para usarmos nossos Pokémon contra eles. Esse ciclo se repete até a barra de frenesi chegar a zero. Sinceramente, tem uma dificuldade até que bem agradável, sem contar que dá uma boa variada na jogabilidade. Por sinal, esse tipo de batalha existe não apenas contra os nobres, como também contra alguns outros pokémon específicos. Assim que todos os nobres são acalmados, começam a ocorrer algumas reviravoltas bem interessantes no jogo, só que aí entra na área dos spoilers, que não é o objetivo do post. Digo uma coisa, porém: é aí que se mostra como a melhor história dos jogos da saga core. Claro que existem muitos jogos com história bem melhores, entretanto, estamos falando de Pokémon, cujo foco nunca foi esse!

O Nobre Arcanine.

Trilha sonora nostálgica e moderna

Legends traz uma OST magnífica, casando perfeitamente com a aventura. As soundtracks de Pokémon serem magníficas não é novidade (até quem detesta a franquia é capaz de admitir isso), porém Legends conseguiu fazer algo fantástico e inédito para a franquia até então - corrijam-me, caso eu esteja incorreto -: combinar nostalgia com inovação. Como assim? Os remakes, versões relançadas e (em teoria) atualizadas dos jogos antigos da franquia trazem a mesma trilha sonora das versões originais, porém utilizando-se de equipamentos mais modernos, porém sem mudar muita a essência. A maioria costuma até considerá-las inferiores. Em Legends Arceus, justamente por ser um jogo novo - embora situando-se como um 'ancestral' d'um pré-existente -, muitas das músicas são rearranjos da OST de Diamond/Pearl, alterando tempo, escala, ritmo, etc. Às vezes isso nem é notado na primeira vez vez em que são escutadas, porém já é o suficiente para trazer uma belíssima sensação de familiaridade de forma inconsciente. Ou seja, o jogo conseguiu trazer versões novas e modernas de faixas mais antigas, porém com uma essência própria, buscando combinar melhor com o contexto do jogo. Acho que o maior exemplo disso é a a faixa da Vila de Jubilife, que ao decorrer do jogo, torna-se cada vez mais semelhante a faixa da Cidade de Jubilife. 

Engana-se, no entanto, quem pensa que a OST de Arceus vive apenas de explorar as faixas de DPPt, pois o jogo possui muitas faixas únicas e 100%  originais que, diga-se de passagem, são sensacionais. A imersão é garantida! Se tem algo que nunca perdeu a qualidade em Pokémon foi a sua produção músical, pois mesmo os piores dos jogos da franquia têm uma trilha sonora 'campeã', só que os jogos mais trabalhados são justamente os que melhor se saem nesse quesito. Legends Arceus exibe uma qualidade musical muito acima do patamar da franquia.

Um jogo para - quase - todos

Em geral, esse game é sensacional. Ele é, certamente, um dos meus favoritos de todos os tempos (não apenas na série Pokémon!), e sei que muitos fãs da franquia concordam comigo nesse ponto. Contudo, devo dizer que existe sim um subgrupo dos jogadores de Pokémon que talvez não sejam agrados por PLA: os focados exclusivamente em partidas competitivas. Olha, eu tive meu período de jogador competitivo da franquia, porém nunca foquei apenas nisso. Existe uma minoria, no entanto, que interessa-se apenas nesse aspecto, tendo total desinteresse no mundo, nos personagens, história, captura, etc. Basicamente as pessoas que só jogam o Pokémon Showdown (nada contra, ok?). Para elas, talvez Legends Arceus não seja tudo isso, já que trata-se de um jogo Single-Player. Olha, porém vale a pena dar uma chance, viu? Pode ser muito divertido, inclusive para quem nunca jogou algo na franquia! De minha parte, devo dizer: esse é o jogo que desde criança eu sonhei. 

Pokémon não precisa ser realista, não precisa dos melhores gráficos. Precisa ser feito pensando na imersão e diversão dos jogadores, ou seja, ser produzido com muito carinho. Carinho este que eu não via presente nos 'mainline' da franquia desde que Black & White 2 saíram (embora nunca tenham sido os meus favoritos, a densidade multi-aspecto dos jogos me fazia vê-los como os melhores da saga core até jogar o Arceus).


Com todo orgulho do mundo posso dizer que não apenas completei a Pokédex (o primeiro jogo que senti que isso era algo realmente necessário, além de ter sido muito divertido e recompensador), como realizei todas as missões - menos as de batalha, pois simplesmente não me interessaram o suficiente -.

Pretendo rejogar esse jogo no futuro e, quem sabe, comente como foi revisitar Hisui aqui no Blog.

Bom, em resumo, embora falhe em alguns aspectos - mais especificamente os gráficos, que não são péssimos como muitos apontam, porém estão longe de serem bons como poderiam -, esse jogo é sensacional! Sinceramente, para a magnitude dele, sinto que faltou reconhecimento. Scarlet & Violet, extremamente mal polidos, tiveram mais reconhecimento que Arceus? É, um absurdo, sinceramente.

Antes de me despedir, gostaria de anunciar que abri uma 'filial' do blog no medium, clique aqui para acessá-la, ou acesse: >> medium.com/@oneleigan << 

O objetivo é republicar alguns posts selecionados do Leigan - com algumas pequenas alterações/melhorias - lá, além de alguns artigos exclusivos. Não abandonarei a ramificação original, aqui no Blogger, continuarei postando por aqui normalmente, sendo que algumas coisas podem sair apenas por cá. Esse blog é muito bem-quisto por mim, porém as visualizações - que já não eram tantas estam bem baixas, por isso estou buscando maneiras de expandir o alcance. Além disso, faz um tempo que almejo criar alguns conteúdos 'diferentes'. De certeza, posso dizer que quero começar a focar mais em artigos que exploram os aspectos filosóficos e abstratos de algumas obras, buscando explicar suas outras facetas, não apenas focando em reviews tradicionais como faço a maioria das vezes. É algo que procuro fazer tem tempo, porém nem sempre consigo devido ao costume e falta de planejamento concreto. Quero começar a analisar mais as obras por arcos/partes, pois assim posso me aprofundar mais e evito ter de dar muitos spoilers. 

Por fim, tenho o desejo de criar algum outro tipo de conteúdo que funcione como complemento ao Leigan, só não sei bem o quê. Podcasts parecem ser o que menos dão trabalho e já tive experiência de participar de alguns projetos, então posso testar um Leigancast ou semelhante (no formato de podcast tradicional, não sou grande fão dos podcasts audiovisuais e nem pretendo exibir o meu rosto). Embora eu tenha algum interesse em produzir conteúdo audiovisual (vídeos com som e imagem), sei que hoje existe uma demanda inconsciente para que eles sejam gravados exibindo o rosto d'álguém, coisa que não pretendo fazer também, além de ser muito mais complicado editar vídeos - não tenho experiência alguma na área, tampouco tempo para aprender no momento -. Tiktok/Instagram são fora de cogitação. Tenho a tendência a prolixidade, preciso de um espaço onde consiga me expressar sem me preocupar com limite de tempo/caracteres. Bom, de toda forma, é um assunto a ser mastigado por um prazo indefinido. Eventualmente tomarei minha decisão e apresentá-la-ei aqui no blog. 

Obrigado por quem leu tudo até aqui, fique bem e, até mais!

PS.: A maior parte deste artigo foi escrito cerca de um mês atrás, o que significa que na sua data de publicação, faz um bom tempo que zerei o jogo. Peço desculpas por qualquer inconsistência e/ou falha que isto tem causado.